domingo, 1 de setembro de 2013

Como tudo começou – 1


Foto do meu irmão Cláudio Monteiro da Costa, de 1964.
Era a visão de dentro da sala da casa onde morávamos,
na Rua Bartholomeu Peranovich



















Mããããe!!! Está cheio de índios na frente da igreja!
Da janela da sala, a visão das torres da igreja e os fundos do Grande Hotel. Rojões e o som ruidoso de tambores. A criança de sete anos, peralta e curiosa, junto com o irmão, sobem a rua, rumo à igreja para ver o que estava acontecendo. Ao chegar ao largo, que susto! Aqueles índios  tocando bumbo e berrante. Pernas, prá que te quero. Para uma criança de sete anos era misto de temor e curiosidade. A criança, era eu. Recém-chegada à Atibaia, em 1964, vinda do Rio de Janeiro. Nunca tinha visto algo como o que acabara de ver. A rua, era o trecho final da Lucas Nogueira Garcês. Os Índios, eram os Caiapós. Os rojões eram da Festa de Nossa Senhora do Rosário. O som ruidos dos tambores eram as congadas. Essas imagens tiveram tal repercussão interna que durante toda minha vida me perguntava qual a razão de ter me envolvido tão intensamente com estas manifestações? Se minha família nada tinha a ver com aquelas comunidades, porque, eu, me envolvi tanto? Não havia resposta para minha dúvida. Passados muitos anos, em 1999, quando fizemos a sala de dança do Garatuja, convidei a professora, mestra, doutora, Graziela Rodrigues, para iniciar um ciclo de oficinas de danças brasileiras. A oficina da Graziela, trouxe como temática a memória, e a busca de um inventário pessoal, através de vivência corporal. Durante a experiência tinhamos que visualizar internamente a terra em que pisávamos, de forma imagética. Foi quando eu visualizei duas situações: a de pisar sobre areia, como de praia, e a de pisar sobre terra avermelhada, como as que pisava no saibreiro próximo ao sítio do Peçanha, caminho da Serra da Pedra Grande. Essas duas imagens, responderam com clareza o que durante tantos anos eu me perguntava. O link cultura e terra natal. Na imagem das areias da praia, a terra natal que acabara de deixar. Claro, as congadas, os caiapós, eram a expressão viva deste link, que podemos chamar de “identidade cultural”. Sem mais explicações. A criança sabe bem o significa esta relação, cultura e terra. E nunca mais, caiapós e congueiros deixaram de estar presentes, e de dar significado a toda minha vida, pisando sobre as novas terras avermelhadas. 

Élsie da Costa – 1 de setembro de 2013.

Um comentário:

  1. Elsie :
    Vendo este anuncio/trailer lembrei do seu texto: http://www.youtube.com/watch?v=yKd8iPeYfAU
    espero que goste.Acho que tem tudo a ver!

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